sábado, setembro 12

a vida num abrir e fechar de malas

Eu sou como a mala
levo dentro a vida necessária
para chegar ao meu destino
e não faltar nada
Abro-me e fecho-me
consoante a partida
ou a despedida
Esvazio-me
e volto a encher-me
Desfaço-me e refaço-me na passagem
no eterno trânsito voluntário
de vida,
de viagem.

brinde apocaliptico

a caminho do fim do mundo

algo pulsa

maior que nós

uma transformação

que explode

a partir de dentro

e desagua nas veias

obrigando a mudar

de casca

pelo interior

sem saber como, para onde,
só porque sim,
por saber simplesmente
que é para ser assim
a metamorfose
deste tempo.

quarta-feira, agosto 5

3,2,1niverso

Dos teus olhos falavam séculos
Sacudindo o meu pó de borboleta
Das asas da ilusão da vida
Outras verdades emergiam na paleta
E com pincéis de luz procurei achar a minha saída
Deu-se encontro destinado a três mosqueteiros
Uma rainha
E dois guerreiros
Com multidões debaixo da pele
Exércitos em busca dos tesouros da mente
E três somente em cena,
Dois amando como centenas,
Um afinal,
Como sempre,
Apenas.

Camping do Artur ,Lumiar, 24 Abril 2009

Consegui sair do Rio de Janeiro, missão difícil. É tempo de reflectir. Passou-se um mês e algo de intensidade absurda, violenta, surpreendente e transformadora. Da chegada ao casarão das letras sem expectativas e acompanhada do carlo e manu, até uma paixão avassaladora vivida entre tiros e delírios na Faixa de Gaza, com muitas viagens vividas na garupa de uma moto - mas principalmente desta mente - pelo caminho.

Despertar

27.03.09
Quarta manhã passada no posto de saúde de Santa Tereza. Já me começo a habituar a ter horas paradas à espera que chamem o meu nome enquanto eu me distraio com a correnteza da mente em meditações amadoras. Apanhei uma infecção urinária que se estende a complicações renais e em lugares de saúde gratuita a sentença tarda e falha até realmente se resolver alguma coisa. Viajar tem destas coisas. Mas muito mais que isso se passa e, apesar das dores, estou feliz. Esboço um sorriso ao lembrar do que diz o médico da Dona Laís sobre as doenças: deve ser concerteza o meu corpo a querer dizer-me alguma coisa. E lá dentro bem sei do que se trata. Comecei de novo a viciar-me nos prazers do amor e da carne quando sei que não é para aí que devo concentrar a minha energia e concentração. A cabeça gosta de ocupar-se com novas paixões e imaginar novos episódios de sagas amorosas. É essa a desculpa de sempre escolhida para ocupar os pensamentos. Mas agora mudou muita coisa em mim e sei que é uma quimera concentrar a minha força em amores impossíveis e passageiros. É até uma desculpa para nublar e distrair a mente de prestar atenção ao que dentro passa, essa transformação imensa e incontornável do meu ser em desabrochamento. Esta infecção avisa-me para tomar mesmo conta de mim e do meu corpo, que é templo e que é puro e que exige que eu esteja sã e consciente dele mais do que nunca.
Os amores que o cultivaram e adoraram, que belo seria um dia escrever sobre eles. Mas não agora. Agora trata-se do amor a mim e da transformação desse amor a outros, a tudo, mas em diversa forma. De estar atenta à ebulição de mim que me agita em formigueiros de dormência desperta, transes descobertos no silêncio da paz selvagem e interior. Oiço e sinto debaixo da pela a Kundalini, que se contorce na base da minha coluna, ajudada pelos rins doloridos e bloqueados, tal como ela, apenas à espera de que eu não tenha mais medo de abrir essas novas portas, desconhecidas e imensas. A vibração energética em conjunto com a dor - que tal como um treinador ditador obriga a parar e respirar para conseguir caminhar depois -é fortíssima e faz de mim um autómato das suas ordens.
Anteontem acendeu-se o fogo e algo muito forte aconteceu. O seu poder, junto com a vibração de quatro pessoas certas, forçou-me a meditar até um estado que nunca tinha alcançado. Fechei os olhos como se alguém me ordenasse e assumi a posição de lótus como se há muito tempo já o devesse ter feito, quase caindo em transe imediato entre a respiração e as brasas crepitantes que ecoavam a alta voz dentro de mim. Tive visões de fogo e terceiro olho, em cores que abriam caminho às profundezas. A base da minha coluna latejava de dor e alívio de cada vez que a respiração consciente permitia o fluir da energia liberadora até lá. Ao mesmo tempo, a lembrança que surge no pensamento inconsciente ao qual estou muito atenta, era a imagem da Kundalini a querer sair, libertar-se da base, da casca, forçando o seu serpentear ao longo da minha coluna. Deixei. Tive medos e procurei eliminá-los, embora fosse bastante forte o meu estado de alteração no tempo e no espaço, transe consciente que me deixava abrir os olhos com medo de cair ou desmair. A cada medo, o regresso à respiração, lição aprendida há tanto tempo por razões que ao longo da vida me relembram a hora de ser posta em prática. Senti-a subir, distribuindo dormência até ao pescoço e daí uma imobilidade no alto da cabeça que trouxe de novo o medo, por sentir que não poderia mover-me, se quisesse. Será que algum dia se consegue eliminar o medo por completo? Volto à respiração e permaneço nela, sem outra hipótese, esperando esse silêncio vazio que tudo esclarece. Fiquei assim durante muito tempo, imóvel e vibrante, com o fogo, o Carlo e o Manu testemunhando serenamente a minha elevação. A certo ponto, penso que a força da experiência e o medo me confundiram e assustaram novamente pois comecei a sentir muito frio e tremores que não fui capaz de controlar. Deitei-me no chão em posição de relaxamento e procurei acalmar-me, mas a presença de tão bons amigos exigiu contacto e enrosquei-me lentamente entre os pés de um e o colo de outro, até que o sintonizar das três respirações e energias me tranquilizou e trouxe de volta. O fogo continuava a falar connosco e esse silêncio mágico proibiu que palavra alguma fosse dita. Lentamente, voltei à posição de lótus e entoei um OM saído de um interior fundo que eu creio ainda não ter encontrado até então. Não era vontade de cantar, era necessidade de vibrar e deixar sair para o universo todo o poder daquela energia. Passado pouco, o Carlo juntou-se ao mantra e a vibração duplicou. Quando chegou a vez do Manu, éramos três e o conjunto das vozes em uníssono e vibrato perfeito transportou-nos para o centro da Terra - e de nós mesmos.
Não sei quanto tempo passou, mas assim permanecemos, sem dizer nada, depois da sensação plena de ter tocado um pouco das estrelas, e sem uma gota de desconforto ou vontade de expressar nada mais após a experiência do que uma assenção de agradecimento mútuo com a cabeça, ao terminarmos de fechar o elo e apagar o fogo que nos acendeu nessa noite.

O portal é mental e corporal

Às portas da quarta dimensão pela mão de dois irmãos. Gémeos. Indíos. Descendentes de sabedoria além das mentes. Acrobatas. Equilibristas ultra-sónicos, ying e yang em mortais e piruetas metódicas e perfeitas. Guerreiros. Urbanos sobreviventes da vida, vivida em mil cenários e continentes. Profissionais magnéticos, malandros, valentes. Músculos e inteligência, coragem precisa e valiosa. Guardiões. Telepáticos seres empáticos que guardam a porta que fica na fronteira entre a sanidade e a loucura. Entre a consciência e a bravura de saber e não ter cura.

Faixa de Gaza, Quintal de Casa, Rio de Janeiro

Na madrugada tiro de fúsil
Ressoa no morro dos infernos
Crianças lutam pelo fútil
Crendo-se seres eternos

Na noite o grito dispara
O aviso de novo perigo
E todo o dia a morte encara
A invasão do inimigo

Nas casas a gente se entricheira
O medo instala o silêncio
O terror dura a vida inteira
A paz apenas um momento

Nas mortes já niguém chora
O peito é de ferro e gelo
Enquanto o amor implora
Num último suspiro, o apelo

Num futuro que ninguém sabe certo
Será que se acalmam as bocas
Será o rumo novo descoberto
Entre estas profundezas loucas

Onde a diferença entre existir e morrer
É sorte frágil como linha de coser
E a esperança fé de todo o ser
É apenas um novo amanhecer.

Adeus, Mel - Até Sempre

E oggi si parte. Estou num barco que se afasta mais e mais, com um nó na garganta e o coração apertado, pleno de vida e saudades, já. Adeus, minha Ilha do Mel. Paraíso enfeitiçado, de natureza selvagem, onde cada um é seduzido e transformado a seu bel prazer e sem distrações. Aqui o mundo pára e a magia permite-se acontecer. Praia Gradne e os amigos para a vida com quem me liguei com laços de aço e unidade, intíma e poderosa, inesquecível. Aqui reaprendi o Amor e encontrei o centro de mim. Aqui descobri finalmente a paz que procurava. E estava dentro. Fui fortalecida por pessoas fundamentais e gigantescas, como a Laís, para quem um adjectivo ou mil sempre seriam pouco, mãe senhora bruxa do Amor e clarividência, mestre de poder e Vida. Ou o Nhô Jeca, um "garoto" de 65 anos que sabe ser um privilegiado por gozar uma vida de boémia selvagem, com a sua casinha sem luz nem água, isolada no meio do mato mas com a divina Praia do Belo como piscina privativa. A bela Terra, primeira mulher que beijei e irmã de sangue quente. Ou o incrivelmente doce e talentoso Manu, cuja humanidade e luz explodem de pureza. Ou o querido Martin, paixão inesperada não correspondida que me fez reaprender a humildade, recusando o meu amor com ternura e calma e que ainda assim me ofereceu noites de suavidade imensa e amizade eterna. O Boño e o Tommy, seres inspiradores em introspecção luminosa, irmãos por telepatia e serenidade. O Kadú, amigo amante de toda a vida apenas conhecido agora, artista de alma Basquiat e rebeledemente irresístivel, safado companheiro de três noites perfeitas em união e felicidade descomprometida, plena e pura, inesperadamente enriquecedora por me fazer aprender finalmente o jogo do amor sem amanhã e da leve liberdade de estar sozinha e amar ao mesmo tempo. Poderosa afrodite, trasnformei-me em luz e energia, loba selvagem e consciência feminina. Aprendi com espanto e naturalidade a amar a tudo e a todos, libertando-me de antigos temores, prisões ou preconceitos. Desabrochei. E sou maior agora. Talvez também porque me voltei a apaixonar por mim e por tudo isto que pode ser viver. Deixo esta ilha porque a viagem necessita seguir. Mas ficaria para sempre. Aliás, fico. Fico para sempre nas trilhas, nas pegadas demoradas e calmas na areia, na corrente do mar tíbio e purificador. Fico para sempre na terra regada pela chuva que me limpou, nos corações dos que viveram isto comigo. Na música espalhada pelos dias e noites partilhados com o Carlo, com o Negretti e o Nego Blue, ou com o delicado saxofonista e seus amigos argentinos, em tons e sintonias jamais experimentados e que me fizeram entrar, como se sempre o tivesse feito, na energia vermelha e laranja da comunhão musical. Aqui também soltei a voz e o amor a esse poder gigantesco forçou-me a assumir que sim, posso e devo, quero continuar a procurar o meu lugar na música, como cantora sonhada desde há tanto e há tanto reprimida e bloqueada por mim mesma. E o Carlo. O Carlo que está dentro da minha pele, que me ensina e escuta, observa e compreende e é o amigo maior deste momento, companheiro mais bonito e ideal que podia querer nesta viagem, nesta mutação interna e nesta aventura em busca de mim. Obrigada, Senhor Universo. Deixo esta ilha e sei que vou voltar. E rever sempre o Ivan, o Marcelinho, o Betinho da Asa Delta, o Chuvinha Pescador, o Mineiro, o Aluche, o Carlão, o Caverna, a Lindinha, a Evelyn, o Caco pintor...pessoas que nunca mais vão sair de mim, porque há coisas que, uma vez descobertas, são nossas para sempre. Deixo esta ilha e estou cheia, porque sei disso. Mas tenho o coração apertado como se fosse sair a nado para terra, querendo ficar ali para sempre. E ao mesmo tempo a vontade de ir, de evoluir e ver o que ainda está depois deste degrau. Seguro o nó na garganta e rio para não mais chorar de tanta Vida, pego no balafon e começo a tocar hipnotizada, estupefacta de emoção, tentando transformar em poesia mágica aquele sentimento para que ficasse para sempre expresso em energia pura nas águas daquele mar de cura. É que são tantas, mas tantas saudades, já, que nem consigo assimilar que vou embora.

Mas sigo. Sem saber como nem para onde ir depois de viver esta tão intensa plenitude. Resta o Presente, o Hoje e o passo seguinte, o livre arbrítio de continuar a procurar neste caminho, tentando não dar passos maiores que a perna para não cair. Rindo às gargalhadas e chorando de explosão emotiva pela sorte de ter vivido, de estar a viver e de ansiar pelo que ainda viverei no meio de tudo isto. Divina comédia.

Sonho Visão

Uma casa virada para Oeste
Com jardim de ervas da floresta
E artes e tintas
E água e tempo
Para o mar e para a música
Para amar e ter amigos
Para curar os inimigos
E rir do infinito.

aviso aos navegantes

O que acima se segue é da exclusiva responsabilidade da interveniente: excertos soltos que foram sendo escritos à mão, pelo caminho, que aqui deixo, sem nenhuma lógica temporal, tudo ao molho e fé em Deus, seja ele o que for. A ideia é não perder, é deixar aqui, este conjunto de memórias de uma viagem que afinal não teve começo nem fim, que mostrou apenas ser uma continuação de mim.

(As fotos tardam, mas um dia aparecem...)

quinta-feira, abril 16

Viva a Vida

Entre a sanidade e a loucura, quem se arrisca a compreender,
a linha de luz que separa um do outro, o meu do teu, eu do eu?

Tu e um, um é todos e todos por um
Universum

Eu leve flutuo
Livre efervesço
Cresço
Desabrocho
Amanheço
Num começo
Infinito

Aprendo e desço
Recomeço do avesso
Apanho
Anoiteço
Choro e recebo
A gargalhada
do Imenso

Irradio e persigo
Abraço o perigo
Gosto
Viro mendigo
Entendo a solidão
Mas espalho o brilho
e o sentido
que não tem direcção


No remoinho do furacão
No turbilhão do caminho
Só com estas armas
Trasmitindo a vibração
Não se apegue
Mas ame
Sem condição.

Protegem-me guerreiros
E anjos e seres ancestrais
E outros mundos, outros olhos que tais,
E não sei quê mais
Não sei nomear nem quero imagens
às vezes sou frágil na viagem
Cristal da lua coragem
Mas sigo, viajando,
sem mais...

30 anos Dali Aqui

Descobri que sou pura e simples - mente surrealista.
Vocês sabem lá. Estou dentro do Rio, ele leva-me e eu deixo-me levar, a velocidade é estonteante mas ao mesmo tempo precisa e controlada. Estou mais leve, mais consciente? Quem sabe? "Onde é que tu tá? Como é que tu tá? Tou no Rio de Janeiro, mas não tou de bobeira"...

sexta-feira, abril 3

Sou morador da faixa de gaza, onde tu num entra nem pagando, eu entro de graça...

Voltei ao Rio e mais uma vez a sincronia me trouxe aonde precisava estar. Da última vez que passei por aqui, fui a Santa Teresa, que me apaixonou. Estive no Casarão das Letras,e pensei que bom seria ficar ali. Pois aí é onde viemos encontrar o Nicolas e onde estamos a dormir desde então. Perfeição. Pelo caminho, mil aventuras. Loucos que compreendo e observo em silencioso questionar adoptam-me como ponto de fuga. O Pedro, senhor de entrada idade e cultura geral inquestionável, decidiu que sou a rainha de um novo reino chamado Lusofonia e todos os dias me aborda na rua mal saio de casa com uma nova ideia quase impossível de acompanhar, um livro que acha que devo ler ou uma oferenda de prestação de servições eternos como protector real na cidade maravilhosa que também é perigosa para quem andar distraído. Ele mesmo nomeou o meu entorno. O Carlo, companheiro perfeito de viagem que já fechou o ciclo e se pôs a caminho de Lisboa, é o guardião da luz da rainha. O Nicolas, italo argentino de coração baiano, musicalidade hipnotizante, genialidade inpiradora e iluminação generosa, é o que tudo vê e a todos espera para amenizar os desiquilibrios. O Manu, argentino duende construtor de instrumentos e amigo irmão para a vida é o que vela pelo pulsar da boa energia. Os gémeos, acrobatas indios malandros de bom coração e acesso livre a universos paralelos, viajantes de toda a vida e aventureiros de vibração, são os guerreiros da rainha, os seus companheiros de viagem mental e protectores de rua com quem a rainha se sente realmente em paz. Moradoras da Faixa de Gaza, quintal de casa, rio de janeiro, vulgo rua que separa duas favelas de onde certas noites se ouve a guerra. A minha primeira visita à casa deles incluiu dormida entre tiros de metralhadora e rajadas de fúsil e uma compreensão mais elevada do estado absurdo da humanidade, com direito a chapada na cara. Com o Sankler, um deles, passeios de moto pelo Rio são cartões de visita com direito a entrada de honra nos lugares mais verdadeiros, seja ele o Circo Voador, a Fundição, a favela ou o ponto de compras que nenhum turista ousaria entrar. Depois há os restantes habitantes do Casarão: a Luana, as espanholas, o Pluto, o Tiago, o Vinicius...gente com quem a energia se cruza em sincronias impressionantes. O Rio é uma cidade que rosna e canta ao mesmo tempo. O Rio é alegria, medo e sofrimento. O Rio agora é a Lapa, Santa, a favela e o Centro. E outra vez sem nexo nem capacidade de continuar a balbuciar pequenos pontos de uma trama gigante, fecho este depoimento. Brevemente> fotos para vosso merecedor contentamento.

quinta-feira, março 12

um pouco mais sobre isso (e continuo sem dizer nada)

OH FAMILIA!

Mil perdões pela ausência de notícias, mas realmente estou imersa em tranquilidade e vida selvagem, assim que vir de encontro à comunicação exige demanda e uma caminhada de pelo menos 40 minutos, que por muitos dias a preguiça impede de procurar. Continuo na ilha do mel, plena e maravilhosa, onde todos os dias há algo novo para fazer e aprender, seja um voo de asa delta (já lá vou), um passeio de barco ou um serão de banhos de mar na lua cheia. Agora já estamos a começar as despedidas, tarefa que se faz incrivelmente difícil porque aqui fiz grandes amigos e sinto-me verdadeiramente bem. Custa sair dos lugares que nos acolhem, porque a vontade é ir ficando para sempre, adivinhando que novas coisas nos oferecerá o dia seguinte.
Pensar no regresso à estrada é preparar-nos para voltar à civilização, cheia de ruídos, impaciência e confusão e por incrível que isso vos pareça, para nós adivinha um choque. Porque aqui há tempo para parar, para ouvir, para respirar e simplesmente existir, sem precisar ou ansiar por mais nada, só deixando a vida natural ostentar o bem estar da sua naturalidade. Percebemos como faz sentido voltar a conectar com as raízes e o quão isso melhora a nossa saúde física, mental e espiritual. E isso causa um vício custoso de deixar.

Mas a viagem segue e há tanto para caminhar que resta guardar no coração o que se vive e continuar em frente, transbordada de recordações que vão enchendo o baú da vida com a certeza de que isto é o melhor que posso estar a fazer neste momento.

Nativa

Pelas trilhas desta ilha vou caminhando
Embriagada pelo encanto
De simplesmente ser

Abro portas do inconsciente
Conscientemente
Sinto na pele a magia de viver

Oiço o respiro da terra
Como no centro de mim
E sorrio por ser assim

Na paz descubro a música
De tudo à minha volta
E voo, livre, alta
e solta.

segunda-feira, março 9

KALI

Aproxima-se uma lua cheia poderosa...

quinta-feira, fevereiro 26

MEL...


Pois para que saibam que estou muito bem. De momento e mais precisamente na Ilha do Mel, vulgo paraíso encantado de trilhas de areia e vegetaçao tropical com praias gigantes de areia branca, água do mar morna e pura boa vida. Fica no sul do Paraná, que é o estado abaixo do Rio. Não apetece sair daqui. Ando descalça o dia inteiro e vocês sabem que eu adoro um pé descalço. A ilha não tem um único veículo motorizado e toda a gente circula a pé ou de bicicleta. Mercadoria, seja qual for, vai numa versão grande de carrinho de mão comum por aqui. Estamos hospedados gratuitamente na casa de uma senhora linda de 67 anos que nos conheceu, se encantou e nos convidou a ficar o tempo que quiséssemos. Neste ponto da viagem não poderia ter sido mais perfeito encontrar um lugar onde sentir-nos em casa e uma mãe brasileira com histórias de avó para contar, que faz cafezinho e almoço, e que cuida de nós. A felicidade, aprendi com ela, é não precisar de quase nada.

Amigos já fizemos muitos e daqueles que ficam. Viajar com um trompetista faz com que a sintonia (e sinfonia) seja imediata e que à nossa volta haja música música e mais música. Entre muitas outras coisa, tem havido sessões com saxofones, guitarras e percussões em bares de praia até quase o sol nascer, onde cada vez se junta mais gente. Já todos nos conhecem e nos tratam como de casa. Contagiante e de encher a alma. E, claro, muito MUITO divertido.

Tenho também sentido muito amor e energia vinda desse lado para mim. Os culpados que se acusem. :) As saudades são muitas mas apenas amor que queria ter asas, porque na verdade os meus estão sempre comigo. Enfim, o tempo voa como sempre e vamos fazendo tudo para viver o Presente da melhor forma possível. Já já nos encontramos de novo, por aí. Por agora, confesso, não tenho pressa. Aprendo muitas coisas pelo caminho, tantas e tão importantes que nem posso explicar. E vejo claramente que esta vida ou todas as outras que já encontrei pelo caminho, são tão "reais" e possíveis como qualquer outra, é tudo uma questão de como se vê as coisas e do que se quer da Vida.

Tenho estado bastante consciente e introspectiva e sinto que a minha energia ganha mais e mais potencial, de cura e de transformaçao positiva nos outros. É algo que eu sabia que tinha, mas que estava meio adormecido, desperdiçado. E centrar-me em aproveitar esse potencial é mesmo a ideia desta viagem. Conhecer o mundo e aproveitar cada momento são apenas cerejas em cima de um bolo perfeito que quero comer bem devagarinho,aproveitando cada dentada.

E estou ciente da sorte incrível (a "produção", a "produção" não falha) que é tudo isto.

Um abraço cheio de amor e alegria
daqui para aí.

quarta-feira, fevereiro 18

suspiro

ver as cataratas do iguazu...entrar na densa floresta tropical de terra vermelha, caminhar um dia inteiro pela imensidão do parque; por entre iguanas, aranhas, jacarés e o que mais se puder imaginar; e ao fim dia estar mesmo por cima do abismo brutal que é a garganta do diabo, a sentir o poder de um rio tranquilo que de repente se transforma em queda livre vertiginosa num rosnar feroz de água imensurável - inacreditavelmente imensurável -deixando que o som te hipnotize, que a visão te pasme e que a espuma cadente em ricochete te molhe o corpo exausto de calor e humidade...é um daqueles momentos na vida em que só nos podemos sentir minúsculos e abençoados, com uma tremenda vontade de chorar e rir ao mesmo tempo: tão intenso que não merece - nem permite - o uso de pontos parágrafos.

sexta-feira, fevereiro 13

lembrete

lembrem-me de vos falar do vale dos pirilampos e do livro de contos do rio quilpo. estou demasiado dentro dessa magia para a poder contar. encontrei um lugar onde sempre voltar. e quem sabe, um dia ficar...

Give me Hopi, Joana...

Esta foi a última mensagem enviada pelos indios hopi ao mundo, a quem só se dirigem uma vez em cada onze anos...a mim causou efeito e por isso quis partilhar.
(um aparte: curiosa "coincidência", a de terem terminado o texto com uma frase - poderosa - com que o sr.Obama também terminou um dos seus mais recentes discursos)

Vale a pena ler.

Mais sobre os Hopi, aqui.


“Les has dicho a las gentes que esta es la Hora Onceava. Ahora debes regresar y decirle a las gentes que ésta ES la Hora. Que hay cosas que deben ser consideradas:

¿En dónde vives?

¿Qué es lo que estás haciendo?

¿Cuáles son tus relaciones?

¿Estás en la relación adecuada?

¿Dónde está tu agua?


Conoce tu jardín. Es el tiempo para hablar tu verdad. Crea tu Comunidad. Sean buenos los unos con los otros. No mires afuera de ti buscando guía. ¡Este podría ser un buen momento!. Existe un río que ahora corre muy rápido. Es tan grande y veloz que algunos temerán. Tratarán de agarrarse a la orilla. Sentirán como se parten, y sufrirán mucho. Has de saber que este río tiene destinación.

Los Ancianos dicen que debemos soltarnos de la orilla, empujarnos hacia el río. Mantener los ojos abiertos. Y nuestras cabezas fuera del agua.

Mira quién está contigo y celebra. En este momento de la historia, no debemos tomar nada personal, y menos a nosotros mismos. Ya que en el momento que lo hacemos, nuestro crecimiento espiritual y nuestro viaje, se detienen.

El tiempo del lobo solitario ya pasó. ¡Júntense!

Erradica la palabra lucha de tu actitud y vocabulario.

Y todo lo que hagamos ahora, será hecho de manera sagrada y en celebración.

Nosotros somos Aquellos a los cuales hemos estado esperando.”


Los Ancianos Oraibi, Arizona Nación Hopi.

domingo, fevereiro 8

consciência

Como sempre, os testemunhos ficam aquém de tudo o que se vive e nao há palavras que possam ser fiéis à verdade do que vai dentro. Relê-los é aperceber-me dessa infinita incapacidade de poder expressar tudo o que sente um ser. Como muitos de vocês devem imaginar, esta viagem nao se trata da vontade imensa de ser turista e conhecer outros lugares, ainda que seja um cenário agradável e enriquecedor e permita a oferta de uma realidade em que somos apenas aquilo em que nos concentramos. Esta viagem trata-se mais do que nada de uma busca espiritual, da procura de um equilíbrio perdido na confusao do mundo que manifesta o desmoronamento constante e vísivel dos seus mecanismos, tal como o conhecemos. Trata-se de uma opçao de despertar, de nao querer permanecer inerte e adormecida perante a minha própria vida e o meu próprio tempo, perante o meu próprio ser e sua missao, que facilmente se vai deixando enredar nas teias da ilusao e da dormência. Sei que para a maioria de vocês esta mensagem também tem vindo a assomar as consciências. Como seres inteligentes que sao, nao sao alheios à mudança ultra-rápida do planeta e dos seus vícios enferrujados, nem o serao concerteza ao que de repente nao parece fazer sentido nas vossas vidas. Dizem os maias que este é o Ano de Transformaçao, o Ano da Tormenta Eléctrica Azul, e que por isso todos estaremos a passar por processos de mudança a uma velocidade que nem sempre entendemos ou podemos acompanhar. Eu finalmente, e já vou tarde, assumo que sim. Que acredito no sentido que me fazem, na missao que me incube o universo, que ao ouvir e entender, se compreende que mais lógico impossível. Sei que tenho um longo caminho de conexao adiante, mas que ele nao podia avançar sem primeiro dizer-me a mim própria - e aos que me chegarem a ler (alguns entenderao, outros nao, uns quantos sorrirao ao ver aonde ainda estou...) - que nao quero mais o meio termo, o estudar mas duvidar, o entender mas defender, e sim agora pretendo seguir com fé e confiança na procura das respostas que sei trazer dentro. E que espero, neste longo tempo de tormenta, me cheguem com muita luz. Esta é a minha escrita para mim mesmo, e que pelo caminho, vos deixo chegar para que...nao sei...de algum modo, me acompanhem.

Nste momento estou em Capilla del Monte, um lugar particularmente especial e onde todos parecem brilhar de dentro para fora. É também um lugar conhecido internacionalmente pela passagem frequente de ovnis (a sério) na montanha mais próxima, chamada Utitorco (e que é todinha de quartzo cristal). E o melhor é que todos os habitantes afirmam a sua veracidade como se fosse a coisa mais natural do mundo. Eu de extra-terrestre confesso que nao vi nada mais do que o habitual, mas sinto realmente que este é um lugar com muito poder. Por todo o lado, se sente que quem aqui vive é porque deseja estar conectado a uma forma de vida mais energética e natural - e nao é o que todos desejamos sinceramente? Talvez por isso me sinta feliz e tranquila aqui. Agora mesmo vou a um dos encontros que há na aldeia, de meditaçao em silêncio pela paz mundial. Acredito nessa força energética, de uns a compensarem outros pela vibraçao. E é bom quando chegamos a um lugar e todos parecem estar a falar a mesma lingua. Quando entendemos a noçao de "we are one", sentimos realmente que o caminho se constrói pela mao de todos e que de outra forma nao é possível. E que basta estar "ligado" para tudo à volta começar a responder em forma de nao-casualidades surpreendentes, quase mágicas. A vibrar, a sincronizar, a demonstrar-nos que basta estar atento. Aconselho. Uma paragem, uma respiraçao, um momento de silêncio e comunhao com a natureza. Pelo menos uma vez por dia. Porque esta uniao faz-se de muita força. E quantos mais, mais forte será. E isso, provavelmente, será a melhor esperança que podemos ter.

Perdoem aqueles a quem isto já parece antiquado, e aqueles a quem isto já parece demasiado "moderno". Sem julgamentos, com muito amor e com imenso respeito pelo ritmo e caminho de cada um,

um breve até já,
J.
e nao é que as sessoes da casa da Piri viraram famosas? Vejam o artigo que saíu no jornal...ultimos paragrafos fazem remetencia a um trompetista italiano que tocava o Libertango: qualquer semelhança com o meu companheiro de viagem Carlo nao è, obviamente, uma coincidência:

http://mail.google.com/mail/?ui=1&view=att&th=11f4e3c2a8dd510c&attid=0.1&disp=vah&zw

uníssono

Ora bem, cá vai disto.

A vida melhorou muito nos últimos tempos. Mais, para dizer melhor. Desde a última vez que escrevi, já andei mais 800km e muitas vidas. Depois de Mendoza, entre amigos de hostal e camping com assado (o famosos churrasco argentino, que nos foi devidamente cozinhado por locais, no meio de um cenário idilico em rio dancante), fizemo-nos à estrada, rumo a Córdoba. Doze horitas de autocarro, metade passadas a ouvir música maravilhosa e histórias sonoras (gravadas pelo Carlo, que tem um gravador incrível onde ficam para sempre memórias escutáveis dos lugares por onde passa) em orelha compartida, a outra metade a dormir contorcida e em modo caïmbra. Ossos doridos do ofício, felicidade de quem corre por gosto e nao há modo de cansar. Chegámos. No hostal, os hospedes vizinhos eram quase todos israelitas, o que em certas coisas é um óptimo presságio. :) Depressa nos fizemos de casa. Há-que especificar que ando a viajar com um italiano cara de pau que toca trompete e se mete com todo a gente num idioma particular e com um humor desarmante que conquista a mais fechada das almas. Só vendo. Aos que insistem em perguntar se somos um casal, desistimos da resposta inicial em dizer que somos "apenas" amigos e passei a responder: "no. es mi perro."

Na primeira noite na cidade, estamos alegremente a passear pela praca e "reconhecemos" sentados dois tipos que cumprimentámo-nos com um olhar cúmplice e sorriso aberto, como seres da mesma tribo tendem a fazer. Passados minutos, sentamo-nos perto deles, a ouvir o que tocava guitarra com uma voz de anciano vivido que derrama a alma pela voz. Incrível sonoridade, apenas um sinal da quantidade de excelentes músicos que íamos encontrar pelo caminho. A intimidade foi imediada mas comedida, até ao momento em que nos pergunta o signo maia. De aí a estarmos a cozinhar na cozinha do espaco que lhe empresta um amigo aquando da sua passagem por Córdoba, foi um dia. No músico, Juan Canay, encontrei uma especie de mestre amigo e sem necessidade de nenhum desses titulos para ambos o sabermos. Um homem, já avô, que trabalhou anos em jornalismo de rádio, televisao e jornais, que gravou três discos, que viveu em nao sei quantos sitios e deu todas as voltas de satisfacao do ego pela via laboral e material, e decidiu, há oito anos atrás, vender a sua casa, ter uma conversa com os seus filhos, já adultos, e partir. Deixou para trás todo o conforto e buscas exteriores para se conectar com o mundo, com o tempo e com ele mesmo. Vive dos nao-acasos do universo, e diz nunca o terem deixado mal. É também artesao, músico exímio e senhor de runas, estudioso de i-ching e seguidor fiel da sabedoria maia. E para mim, um nao-acaso pontualíssimo.

Apesar de já nos sentirmos em casa, o objectivo de Córdoba era rumar a Cosquín, a duas horas da cidade, para irmos ao tal festival de folklore, que pensei ser "boring". Havia que ir. O que nao contávamos era que o Juan nos fosse indicar o lugar onde ir, mal chegassemos: a casa da Piri. Como explicar? A casa da Piri é o lugar onde há sempre músicos e músicas e onde todos vêm bater depois da noite acabar e o dia apenas comecar. É na verdade, um quarto, uma cozinha e um jardim, do mais simples que podem imaginar, mas onde cabe o mundo inteiro. Chegámos e bastou dizer da parte de quem vinhamos para nos conseguir um espacinho no jardim onde montar a tenda. De vizinhos tenda temos cinco, apenas porque nao cabem mais. De partillhadores de espaco, onde soa música de noite, manha e madrugada (é bem conhecido por nao ser o lugar mais apropriado para dormir) temos centenas, que vao rodando consoante o horario e estado de consciencia. De norte a sul, de este a oeste, do Peru à Italia, todos fazem parte do que acontece na casa da Piri. E o mais impressionante, todos músicos incríveis, que mesmo com doze horas de alcool e nenhuma de sono estao sempre no tom certo. Amigos novos, muitos, e na alma uma sensacao de familiariedade francamente comovente. Ali nao se cobra, nao se questiona, nao se pergunta, apenas se é, se partilha e se comparte, trate-se de música, comida ou energia. As últimas três madrugadas foram despertadas por bombos, flautas, violinos, acordeons, guitarras ou vozes cantando músicas que já se entranham em cordobês (só o sotaque cordobês merecia que se lhe dedicasse um texto inteiro), nao havendo outro remédio senao interromper o descanso - seja ele o quao necessario for - e juntar-te à festa.

Quanto ao Festival, dois apontamentos:

O folclore aqui é toda uma outra conversa, tem inumeraveis variacoes - do alternativo ao popular, do litoral ao interior, da chacarena à zamba - e é um acontecimento onde todos os jovens e velhos, sejam engenheiros, médicos ou padeiros, dancam, cantam e vibram; e a cidade inteira - do rio ao club, da praca ao bar, da discoteca à música de rua - vibra com eles.

Os cóoordobses (tentativa de imitar o inimitável e cómico sotaque lento e arrastado) sao uns grandas malucos. A festa aqui "comeca" às onze da noite, o que na realidade significa às quatro da manha, o que na verdade siginifica que se nao dormires nenhum dos dias (e seguires directo para a casa da Piri quando a noite "oficial" acabar), melhor. Tudo bem regado - mas mesmo impressionantemente regado - com cerveja ou com essa mistura incrível que é a Fernet com Coca Cola (sim, a velha Fernet, aqui, é um monumento nacional e eu, que descobri que afinal sabe a propólis, já me habituei a ela) e com muito boa disposicao, música e humor. Quando o calor aperta - pelas duas da tarde, - ok, decide-se que é hora de descansar, o que na verdade significa ir para o rio (lindo lindo lindo) tomar banhos de água deliciosamente morna, fechar os olhos debaixo de uma sombra de árvore, tocar mais música e, de preferência, continuar a beber.

Eu vou fazendo o meu caminho, tranquilo na medida do possível e descansado na medida do impossível. Há uma nova paz interior e muitas gargalhadas a sobrevoar tudo isto. Para que saibam.

Estou Bem.

um grande beijo e um breve até já,

J.

introduçao

Caros seres que querem saber de mim,

Dear people who care,

Queridos amigos que se importan,

So para informar que a madame esta bem e recomenda-se. Passados os dias de conforto maternal e alegrias brasileiras, eis que se acabou a vida de lorde e se mudou de registo para abraçar o verdadeiro estilo mochileiro, deep and dirty, oh yeah baby. Chegar a Buenos Aires e encontrar amigos que nao via ha seis anos, conhecer outros que estava para conhecer ha seis anos e encontrar-me no dia seguinte com o amigo Carlo, acadinho de chegar do peru, foi uma injecçao de energia vibrante que me encheu de felicidade. Buenos Aires, ahhh, sem duvida que esses bons ares a mim me fizeram bem. Noites de praças, musicas, cerveja, lembranças e gargalhadas puseram-me o brilho no olhar que creio so devem ter aqueles que se apercebem do presente, e valoram cada segundo que passa com magia. Passeios, respastos e descansos, realidades conhecidas e memorias revividas fizeram-me sentir em casa. E trocas com outros saberes, outras viagens e pessoas que se encontram por acaso no meio de um concerto de 5000 pessoas e parecemos conhecer - e conhecemos mesmo - sao as pequenas experiencias que fazem tudo valer ainda mais a pena. E gatos, tem havido sempre gatos nesta viagem. A cidade è linda, limpa e estranha-se o facto de estar na america latina. Parece deslocada em tempo e ferida no orgulho por a terem posto ali. Mas depois tem a brilhante energia e flexibilidade descontraida dos paises "menos desenvolvidos", e a alegria descomplexada de que aprendeu a rir das miserias da vida. Se pedes a um autocarro para parar a meio da estrada e esperar pelo teu amigo que esta a comprar uma sandes, eles ainda param. Ainda nao foram afectados pelo efeito robotico-androide das grandes metropoles, nas quais te lavam o cerebro para te limitares a seguir ordens. Em suma, por aqui permanecem humanos. Curioso ver as antiteses do mundo: os que mais tem, sao os menos felizes na expressao e os que mais problemas desenvolvem. Os que mais desenvolvem sao os que menos disfrutam do tempo. Quanto mais civilizados menos humanos. Quanto mais "evoluidos" menos ligados a natureza. Da que pensar? Pois pensai.

Demoraria anos em explicar tudo. Abrevio, porque ja sei que e impossivel.
Agora estou em Mendoza, com o meu tano companheiro de viagem, Carlo Coppadoro. Mendoza fica a noroeste da argentina e aqui e onde se produz a maior quantidade do belo vinho argentino. Tambem se faz desporto de aventura, sobem-se montanhas e salta-se de parapente sobre uma paisagem imensa. Eu vou andar a cavalo por ai e de bicicleta para as bodegas de vinho (que dizem que a volta nao e facil...)
Depois vamos atravessar ate a outra ponta. Vamos ate Cordoba, onde o Carlo insiste em levar-me a um festival de folklore (boriiiiinng) e depois ate as cataratas do iguacu, onde vou ver aguaaaaaaaaaaa, sem a qual tenho agora a absoluta certeza sou incapaz de viver. (Um aparte lido nalgum lugar da bahia: a vida e demasiado curta para se viver longe do mar...) Estao 38 graus, assim que poderao entender a ansiedade... dai penso que nos separamos, ele vai para o brasil e eu vou por-me a caminho da bolivia e peru. glu glu.

fica aqui um pequeno relato desta vida errante e desprendida, incrivelmente magica, que ja tinha esquecido mas que sem duvida continuo a amar e chamar de minha. por agora fico-me que senao nunca mais me calo, repetindo uma palavra que se tornou recente habito do meu irmao (que em todos os mails termina assim):

DISSE.


um beijo a todos, com sempre saudades mas muito muito amor sempre presente...

Presente Presente Presente
Vivam.

disse.
joana



sorry, lost my hand to write all that in english and castellano, so please LEARN TO READ PORTUGUESE or get the resume :)


so, Im alive and kicking and happy to be so. Im now in mendoza, south west argentina. before, i was in brasil and buenos aires. friends, laughs and great feeligs. spreading joy all around. here, im going to drink a lot of wine and horse ride in the mountains. then ill be crossing all argentina through cordoba untill i reach cataratas de iguacu. im now travelling with carlo, my lisbon living italian friend. then he's off to brasil and Ill be heading to bolivia and peru. glu glu.

best phrase read so far (in bahia): "Life is too short to live away from the sea..."

I'm loving to take time to live life with no hurries. It feels more like myself. we should all do so once in a while.
and live and love the present moment to the max. that's the current moto.

(this turned out like a school work describing "How were my hollidays?", but please be undestanding.

Love and kisses,
joana

quinta-feira, janeiro 8

trancoso sempre tranca




Estou de volta a Trancoso. Ki maravilha!!!

segunda-feira, janeiro 5

nota breve sobre curiosidade cultural



É bonito ver que, todos os finais de ano, uma das tradições dos brasileiros é ir ao mar, lançar flores e agradecer pelo ano findo e pedir pelo novo, a Yemanjá. Yemanjá é a deusa das águas e dos mares, e que no fundo simboliza a Nossa Senhora, Virgem Maria ou que cada um lhe quiser chamar. Lançam-se flores porque se diz que Yemanjá é muito vaidosa. Mas depressa percebi que os devotos não se ficam apenas apenas flores, oferecem outras coisas que crêem fazê-la feliz...todo o tipo de coisas. Qual não foi o meu espanto ao ver um casal de velhinhos a dirigir-se à água, ela com flores e ele com uma garrafa de champanhe. "Que lindo", pensei: "vão lançar as flores e brindar à beira mar". Vai daí o velho abre a garrafa e lança-a toda - vidro incluído - para a água e vem-se embora. Não queria acreditar. Depois disso, constatei que era uma práctica comum. Não só o lançamento de garrafas de champanhe como tudo o que a imaginação permita, desde jóias a copos de plático. Talvez por isso, o primeiro de Janeiro tenha constatado isto. Percebo mais uma vez que a evolução de uns é o atraso dos outros, e que a falta de informação e o excesso de religião podem ser o cancro do mundo (juntamente com o medo, mas isso é outra conversa). Ora bem, em falta de Yemanjá para responder à letra, respondo eu por ela: pode ser vaidosa, mas não é bebâda e muito certamente não deve ser consumista. O que ela quer mesmo é que deixemos de mandar merdas que continuem a poluir os oceanos. Haja Santa paciência!

fim e começo


Passei o fim de ano no Rio de Janeiro, no lugar mais clássico de todos: a praia de Copacabana. Como já estava à espera, foi um pouco surreal. Após 29 anos a passá-lo no mesmo lugar, em casa, na ilha a que gosto de chamar "the rock", entre montes de familiares vestidos a rigor negro, a assistir a um dos espectáculos mais incríveis do mundo em cenário bem friozinho, encontrar-me no meio de 2 milhões de desconhecidos na praia, vestida de branco e chinelo, cheia de calor e - mais que tudo - sem programa de festas pós fogos - confesso que deixou a desejar. Mas não deixa sempre, essa data tão esperada, pela qual a maioria anseia cheia de planos para celebrar uma coisa que nem faz sentido que é a contagem do tempo? Acaba sempre por ser meio frouxo, ou alguém discorda? Maravilhoso foi na manhã seguinte, estar a sonhar que estava a preparar-me para saltar de bungee jumping com um grande amigo (aquele com quem normalmente termino sempre as noites de fim de ano) e o telefone tocar, acordar-me e ser ele do outro lado a perguntar que raio de fim de ano tinha sido esse que já estava na cama às 10 da manhã? Estar a sonhar com ele e ele ligar-me foi o sinal mais bonito de que o universo é mesmo mais complexo do que pensamos e de que a magia ainda existe para aqueles que nela quiserem acreditar e sentir. Além de ter sido um excelente começo de ano, logo seguido por uma mensagem personalizada da minha amiga Mariana, da Bulgária (conhecida há pouco mais de um mês, num festival de cinema em Kars, que fica na fronteira turca com a Arménia, a Georgia e o Irão) que lá de longe, me surpreendeu e fez esboçar um grande sorriso, ao lembrar-se de mim. O primeiro de Janeiro foi, portanto, bem mais promissor e estimulante que o último de Dezembro. E ainda bem. 2008 foi um ano intenso, cheio de emoções intensas tristes e marcantes que sabe bem deixar para trás. Venha 2009, cheio de novas, alegres e inesquecíveis aventuras. E amigos, com quem sempre poder contar.