quinta-feira, abril 16

Viva a Vida

Entre a sanidade e a loucura, quem se arrisca a compreender,
a linha de luz que separa um do outro, o meu do teu, eu do eu?

Tu e um, um é todos e todos por um
Universum

Eu leve flutuo
Livre efervesço
Cresço
Desabrocho
Amanheço
Num começo
Infinito

Aprendo e desço
Recomeço do avesso
Apanho
Anoiteço
Choro e recebo
A gargalhada
do Imenso

Irradio e persigo
Abraço o perigo
Gosto
Viro mendigo
Entendo a solidão
Mas espalho o brilho
e o sentido
que não tem direcção


No remoinho do furacão
No turbilhão do caminho
Só com estas armas
Trasmitindo a vibração
Não se apegue
Mas ame
Sem condição.

Protegem-me guerreiros
E anjos e seres ancestrais
E outros mundos, outros olhos que tais,
E não sei quê mais
Não sei nomear nem quero imagens
às vezes sou frágil na viagem
Cristal da lua coragem
Mas sigo, viajando,
sem mais...

30 anos Dali Aqui

Descobri que sou pura e simples - mente surrealista.
Vocês sabem lá. Estou dentro do Rio, ele leva-me e eu deixo-me levar, a velocidade é estonteante mas ao mesmo tempo precisa e controlada. Estou mais leve, mais consciente? Quem sabe? "Onde é que tu tá? Como é que tu tá? Tou no Rio de Janeiro, mas não tou de bobeira"...

sexta-feira, abril 3

Sou morador da faixa de gaza, onde tu num entra nem pagando, eu entro de graça...

Voltei ao Rio e mais uma vez a sincronia me trouxe aonde precisava estar. Da última vez que passei por aqui, fui a Santa Teresa, que me apaixonou. Estive no Casarão das Letras,e pensei que bom seria ficar ali. Pois aí é onde viemos encontrar o Nicolas e onde estamos a dormir desde então. Perfeição. Pelo caminho, mil aventuras. Loucos que compreendo e observo em silencioso questionar adoptam-me como ponto de fuga. O Pedro, senhor de entrada idade e cultura geral inquestionável, decidiu que sou a rainha de um novo reino chamado Lusofonia e todos os dias me aborda na rua mal saio de casa com uma nova ideia quase impossível de acompanhar, um livro que acha que devo ler ou uma oferenda de prestação de servições eternos como protector real na cidade maravilhosa que também é perigosa para quem andar distraído. Ele mesmo nomeou o meu entorno. O Carlo, companheiro perfeito de viagem que já fechou o ciclo e se pôs a caminho de Lisboa, é o guardião da luz da rainha. O Nicolas, italo argentino de coração baiano, musicalidade hipnotizante, genialidade inpiradora e iluminação generosa, é o que tudo vê e a todos espera para amenizar os desiquilibrios. O Manu, argentino duende construtor de instrumentos e amigo irmão para a vida é o que vela pelo pulsar da boa energia. Os gémeos, acrobatas indios malandros de bom coração e acesso livre a universos paralelos, viajantes de toda a vida e aventureiros de vibração, são os guerreiros da rainha, os seus companheiros de viagem mental e protectores de rua com quem a rainha se sente realmente em paz. Moradoras da Faixa de Gaza, quintal de casa, rio de janeiro, vulgo rua que separa duas favelas de onde certas noites se ouve a guerra. A minha primeira visita à casa deles incluiu dormida entre tiros de metralhadora e rajadas de fúsil e uma compreensão mais elevada do estado absurdo da humanidade, com direito a chapada na cara. Com o Sankler, um deles, passeios de moto pelo Rio são cartões de visita com direito a entrada de honra nos lugares mais verdadeiros, seja ele o Circo Voador, a Fundição, a favela ou o ponto de compras que nenhum turista ousaria entrar. Depois há os restantes habitantes do Casarão: a Luana, as espanholas, o Pluto, o Tiago, o Vinicius...gente com quem a energia se cruza em sincronias impressionantes. O Rio é uma cidade que rosna e canta ao mesmo tempo. O Rio é alegria, medo e sofrimento. O Rio agora é a Lapa, Santa, a favela e o Centro. E outra vez sem nexo nem capacidade de continuar a balbuciar pequenos pontos de uma trama gigante, fecho este depoimento. Brevemente> fotos para vosso merecedor contentamento.