quarta-feira, agosto 5

Adeus, Mel - Até Sempre

E oggi si parte. Estou num barco que se afasta mais e mais, com um nó na garganta e o coração apertado, pleno de vida e saudades, já. Adeus, minha Ilha do Mel. Paraíso enfeitiçado, de natureza selvagem, onde cada um é seduzido e transformado a seu bel prazer e sem distrações. Aqui o mundo pára e a magia permite-se acontecer. Praia Gradne e os amigos para a vida com quem me liguei com laços de aço e unidade, intíma e poderosa, inesquecível. Aqui reaprendi o Amor e encontrei o centro de mim. Aqui descobri finalmente a paz que procurava. E estava dentro. Fui fortalecida por pessoas fundamentais e gigantescas, como a Laís, para quem um adjectivo ou mil sempre seriam pouco, mãe senhora bruxa do Amor e clarividência, mestre de poder e Vida. Ou o Nhô Jeca, um "garoto" de 65 anos que sabe ser um privilegiado por gozar uma vida de boémia selvagem, com a sua casinha sem luz nem água, isolada no meio do mato mas com a divina Praia do Belo como piscina privativa. A bela Terra, primeira mulher que beijei e irmã de sangue quente. Ou o incrivelmente doce e talentoso Manu, cuja humanidade e luz explodem de pureza. Ou o querido Martin, paixão inesperada não correspondida que me fez reaprender a humildade, recusando o meu amor com ternura e calma e que ainda assim me ofereceu noites de suavidade imensa e amizade eterna. O Boño e o Tommy, seres inspiradores em introspecção luminosa, irmãos por telepatia e serenidade. O Kadú, amigo amante de toda a vida apenas conhecido agora, artista de alma Basquiat e rebeledemente irresístivel, safado companheiro de três noites perfeitas em união e felicidade descomprometida, plena e pura, inesperadamente enriquecedora por me fazer aprender finalmente o jogo do amor sem amanhã e da leve liberdade de estar sozinha e amar ao mesmo tempo. Poderosa afrodite, trasnformei-me em luz e energia, loba selvagem e consciência feminina. Aprendi com espanto e naturalidade a amar a tudo e a todos, libertando-me de antigos temores, prisões ou preconceitos. Desabrochei. E sou maior agora. Talvez também porque me voltei a apaixonar por mim e por tudo isto que pode ser viver. Deixo esta ilha porque a viagem necessita seguir. Mas ficaria para sempre. Aliás, fico. Fico para sempre nas trilhas, nas pegadas demoradas e calmas na areia, na corrente do mar tíbio e purificador. Fico para sempre na terra regada pela chuva que me limpou, nos corações dos que viveram isto comigo. Na música espalhada pelos dias e noites partilhados com o Carlo, com o Negretti e o Nego Blue, ou com o delicado saxofonista e seus amigos argentinos, em tons e sintonias jamais experimentados e que me fizeram entrar, como se sempre o tivesse feito, na energia vermelha e laranja da comunhão musical. Aqui também soltei a voz e o amor a esse poder gigantesco forçou-me a assumir que sim, posso e devo, quero continuar a procurar o meu lugar na música, como cantora sonhada desde há tanto e há tanto reprimida e bloqueada por mim mesma. E o Carlo. O Carlo que está dentro da minha pele, que me ensina e escuta, observa e compreende e é o amigo maior deste momento, companheiro mais bonito e ideal que podia querer nesta viagem, nesta mutação interna e nesta aventura em busca de mim. Obrigada, Senhor Universo. Deixo esta ilha e sei que vou voltar. E rever sempre o Ivan, o Marcelinho, o Betinho da Asa Delta, o Chuvinha Pescador, o Mineiro, o Aluche, o Carlão, o Caverna, a Lindinha, a Evelyn, o Caco pintor...pessoas que nunca mais vão sair de mim, porque há coisas que, uma vez descobertas, são nossas para sempre. Deixo esta ilha e estou cheia, porque sei disso. Mas tenho o coração apertado como se fosse sair a nado para terra, querendo ficar ali para sempre. E ao mesmo tempo a vontade de ir, de evoluir e ver o que ainda está depois deste degrau. Seguro o nó na garganta e rio para não mais chorar de tanta Vida, pego no balafon e começo a tocar hipnotizada, estupefacta de emoção, tentando transformar em poesia mágica aquele sentimento para que ficasse para sempre expresso em energia pura nas águas daquele mar de cura. É que são tantas, mas tantas saudades, já, que nem consigo assimilar que vou embora.

Mas sigo. Sem saber como nem para onde ir depois de viver esta tão intensa plenitude. Resta o Presente, o Hoje e o passo seguinte, o livre arbrítio de continuar a procurar neste caminho, tentando não dar passos maiores que a perna para não cair. Rindo às gargalhadas e chorando de explosão emotiva pela sorte de ter vivido, de estar a viver e de ansiar pelo que ainda viverei no meio de tudo isto. Divina comédia.

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