sexta-feira, abril 3

Sou morador da faixa de gaza, onde tu num entra nem pagando, eu entro de graça...

Voltei ao Rio e mais uma vez a sincronia me trouxe aonde precisava estar. Da última vez que passei por aqui, fui a Santa Teresa, que me apaixonou. Estive no Casarão das Letras,e pensei que bom seria ficar ali. Pois aí é onde viemos encontrar o Nicolas e onde estamos a dormir desde então. Perfeição. Pelo caminho, mil aventuras. Loucos que compreendo e observo em silencioso questionar adoptam-me como ponto de fuga. O Pedro, senhor de entrada idade e cultura geral inquestionável, decidiu que sou a rainha de um novo reino chamado Lusofonia e todos os dias me aborda na rua mal saio de casa com uma nova ideia quase impossível de acompanhar, um livro que acha que devo ler ou uma oferenda de prestação de servições eternos como protector real na cidade maravilhosa que também é perigosa para quem andar distraído. Ele mesmo nomeou o meu entorno. O Carlo, companheiro perfeito de viagem que já fechou o ciclo e se pôs a caminho de Lisboa, é o guardião da luz da rainha. O Nicolas, italo argentino de coração baiano, musicalidade hipnotizante, genialidade inpiradora e iluminação generosa, é o que tudo vê e a todos espera para amenizar os desiquilibrios. O Manu, argentino duende construtor de instrumentos e amigo irmão para a vida é o que vela pelo pulsar da boa energia. Os gémeos, acrobatas indios malandros de bom coração e acesso livre a universos paralelos, viajantes de toda a vida e aventureiros de vibração, são os guerreiros da rainha, os seus companheiros de viagem mental e protectores de rua com quem a rainha se sente realmente em paz. Moradoras da Faixa de Gaza, quintal de casa, rio de janeiro, vulgo rua que separa duas favelas de onde certas noites se ouve a guerra. A minha primeira visita à casa deles incluiu dormida entre tiros de metralhadora e rajadas de fúsil e uma compreensão mais elevada do estado absurdo da humanidade, com direito a chapada na cara. Com o Sankler, um deles, passeios de moto pelo Rio são cartões de visita com direito a entrada de honra nos lugares mais verdadeiros, seja ele o Circo Voador, a Fundição, a favela ou o ponto de compras que nenhum turista ousaria entrar. Depois há os restantes habitantes do Casarão: a Luana, as espanholas, o Pluto, o Tiago, o Vinicius...gente com quem a energia se cruza em sincronias impressionantes. O Rio é uma cidade que rosna e canta ao mesmo tempo. O Rio é alegria, medo e sofrimento. O Rio agora é a Lapa, Santa, a favela e o Centro. E outra vez sem nexo nem capacidade de continuar a balbuciar pequenos pontos de uma trama gigante, fecho este depoimento. Brevemente> fotos para vosso merecedor contentamento.

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